O Rio Grande, a querência matriz de todos os gaúchos espalhados pelo mundo, tem na sua linguagem, expressões que são desconhecidas ou então mal compreendidas nos outros rincões de nossa Terra Brasilis. Para ajudar um pouco quem não convive com nossos dialógos bacanudos, preparamos esta coletânea de textos baseados em palavras e fonéticas específicas de nossa grande querência amada.
O dialeto gaúcho é um dialeto do português falado no Rio Grande do Sul, e em parte do Paraná e de Santa Catarina. Fortemente influenciado pelo alemão e italiano, por força da colonização, e espanhol e pelo guarani, especialmente nas áreas próximas à fronteira com o Uruguai, possui diferenças lexicais e semânticas muito numerosas em relação ao português padrão - o que causa, às vezes, dificuldade de compreensão do diálogo informal entre dois gaúchos por parte de pessoas de outras regiões brasileiras, muito embora eles se façam entender perfeitamente quando falam com brasileiros de outras regiões. Foi publicado um dicionário "gaúcho-brasileiro" pelo filólogo Batista Bossle, listando as expressões regionais e seus equivalentes na norma culta.
Segundo Felipe Simões Pires, em seu artigo Gaúcho, o Dialeto Crioulo Riograndense, a formação do dialeto se dá, basicamente, por:
- vocábulos hispano-luso-indígenas
- aumentativos e diminutivos hispânicos
- escrita lusitana
- pronúncia baseada no português, mas lida como no espanhol
- falta de uma gramática oficial, mantendo o dialeto constantemente mutante e flexível
- A pronúncia do “o” e do “e” são feitas como no Espanhol quando se alterariam para “u” e “i” no Português.
- O diminutivo “inho” quase sempre e substituído por “ito”, mas há casos onde sobrevive. Recorde-se que não há regra oficial para a fala campeira e que a maioria das pessoas sequer sabem que não falam Português nem Espanhol.
- O pronome “lhe”, quase sempre é pronunciado “le”.
- Há uma grande dificuldade entre os nativos para saberem quando pronunciar “b” ou “v”, pois flutuam entre a gramática portuguesa e espanhola.
- As palavras que têm dupla escrita de “x” ou “ch”, têm no “ch” sua escrita castelhana e “x” lusitana (galega).
- Palavras
- aipim = mandioca
- ancinho = rastilho, rastelo, ciscador, catador de folhas
- aprochegar = aproximar-se, chegar perto;
- aspa = chifre
- aspaço / aspada= chifrada
- atucanado = atrapalhado, cheio de problemas;
- baita = grande, crescido;
- bergamota = tangerina;
- borracho = bêbado;
- branquinho = beijinho (doce);
- brigadiano = policial militar
- cacetinho = pão francês;
- cancheiro = pessoa que tem experiência e/ou habilidade em alguma coisa
- carpim = meia de homem
- chapa = radiografia
- chapa = dentadura
- chavear = trancar com a chave;
- china = mulher;
- chinaredo = bordel; onde fica o chinaredo.
- chinoca = prostituta;
- colorado = torcedor do Internacional;
- corpinho = sutiã;
- cuecão = ceroula;
- cuia (para mate)= parte da planta 'lagenaria vulgaris' usada para o chimarrão.
- cupincha = camarada, companheiro, amigo;
- cusco = cachorro, cão pequeno;
- entrevero = mistura, desordem, confusão de pessoas, briga;
- fatiota = terno;
- folhinha = calendário;
- gaudério = gaúcho;
- guaipeca / guapeca= cachorro viralata.
- guria = menina, moça;
- lomba = ladeira;
- melena = cabelo;
- minuano = vento vindo do sul que trás as massas gélidas do Pólo Sul.
- negrinho = brigadeiro (doce);
- pandorga = papagaio, pipa;
- parelho = liso, homogêneo;
- patente = vaso sanitário;
- pebolim = totó, fla-flu;
- pechada = batida, trombada (entre automóveis)
- pedro e paulo = dupla de policiais militares;
- peleia = briga;
- piá/guri = menino, garoto;
- pila = palavra regional que dá nome a moeda nacional, no caso o Real (ex: 10 pila, 25 pila - usa-se sempre no singular);
- prenda = mulher do gaúcho;
- quebra-molas = lombada;
- sarjeta = meio-fio;
- sestear = dormir depois do almoço;
- sinaleira = semáforo;
- tchê = pessoa, "cara";
- tercear ferro = lutar com adagas, facões ou facas grandes.
- terneiro = bezerro;
- trava = freio, breque;
- tri = muito (ex: trilegal, tribonita);
- veranear = passar o verão;
- vivente = criatura viva, pessoa, indivíduo;
- xirú= índio ou caboclo. Na língua tupi quer dizer "meu companheiro"
- Expressões
- agüentar o tirão = topar a parada, sustentar uma opinião;
- andar pelas caronas = andar mal, estar em dificuldade;
- arrastar a asa = enamorar-se;
- botar os cachorros = falar mal de alguém;
- chorar as pitangas = lamuriar-se;
- dar com os burros n'água = dar-se mal, ser mal sucedido;
- deitar nas cordas = fazer corpo mole;
- de orelha em pé = atento, de sobreaviso;
- de rédeas no chão = entregue, submisso, apaixonado;
- de varde = de balde, em vão;
- de vereda = imediatamente, já;
- é tiro dado e bugio deitado = acertar de primeira; ter certeza do que faz;
- entregar as fichas = ceder, concordar;
- estar com o diabo no corpo = estar furioso, insuportável;
- frio de renguear cusco = frio tão intenso que pode deixar um cachorro mancando;
- índio velho = camarada;
- ir aos pés = fazer as necessidades no vaso sanitário;
- juntar os trapos = casar, viver junto;
- lamber a cria = mimar o filho;
- largar de mão = desistir, abandonar;
- matar cachorro a grito = estar sem dinheiro, estar na miséria, viver com dificuldade;
- meter a viola no saco = calar-se, desistir, acovardar-se;
- morar para fora = morar no campo (fazenda, sítio ou vila pequena)
- na ponta dos cascos = (estar) em posição excelente, pronto para atuar;
- no mato sem cachorro = em dificuldade, em apuros;
- olhar de cobra choca = olhar dissimulado;
- se aprochegar = chegar mais próximo, se acomodar;
- sentar o braço = surrar, espancar, esbofetetar, bater;
- terneiro guacho = tomador de leite;
- tomar uma camaçada de pau = apanhar;
- tomar uma tunda de laço = apanhar;
- Interjeições
- Bah! = Nossa! - é primariamente, uma interjeição de espanto, mas pode ter outros usos, como, por exemplo, mostrar hesitação ao iniciar uma frase.
- Capaz? = É mesmo?, Imagina! - indica espanto e dúvida ao mesmo tempo quanto ao que a pessoa acabou de ouvir.
- Que tri! = Que legal!
Algumas comparações
- Na Cidade de São Paulo: Você pegou algumas frutas?
No Rio Grande do Sul: Tu pegou algumas frutas?
- Na Cidade de São Paulo: Que tombo feio!
No Rio Grande do Sul: Mas que pialo feio,Tchê!
- Na Cidade de São Paulo: Que "muleque" rápido!
No Rio Grande do Sul: Mas que "guri" ligeiro esse! tche!
Há diferenças também nas próprias regiões do Rio Grande do Sul, por influência da colonização:
- Na cidade de Porto Alegre: Bah, né! Tu viu que o cara pegou todo nosso dinheiro?
- Na cidade de Pelotas: Bah, tchê! Tu visse que o cara pegou todo nosso dinheiro?
- Na cidade de Passo Fundo: Bah, Tchê! Tu viu que aquele homem pegou todo nosso dinheiro?
Muito interessante amigo Geraldo !
ResponderExcluirRealmente nossa cultura é muito rica .
Ainda bem que os gauchos esqueceram aquela ideia de separação do Brasil.
abs
Francisco
bah tem uma amiga nossa q vai gosta desta materia kkk
ResponderExcluirAssim Eninha vai conseguir me entender um pouco melhor
muito bom guri
bjo grande
Tche .. se então chamar alguém de uma filha de uma chinoca ... ta chamando pro pau? E o gaucho vem? rsssrsr ...
ResponderExcluirGrande Geraldo, índio velho!
ResponderExcluirGostei do post tchê. Ficou tri legal! ;-)
Forte abraço, Fernandez.