Nomes antigos nas ruas de Porto Alegre remetem a histórias curiosas

Geraldo Voltz Laps
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Atual Praça General Osório abrigava prostituta que se tornou famosa em Porto Alegre no século 19, enquanto a Bento Martins era cheia de casinhas da luz vermelha


Há ruas de Porto Alegre que carregam histórias curiosas relacionadas a seus nomes. A Rua General Bento Martins, no Centro Histórico, é um desses casos. Começou como Rua do Arroio, apesar de nenhum arroio passar por sua extensão. E teve denominações divertidas, como Os 7 Pecados ou Os Pecados Mortais.

— A Rua Os 7 Pecados tinha esse nome porque havia ali sete casinhas da luz vermelha. Esses nomes, às vezes, até socialmente não eram muito adequados — esclarece a professora aposentada do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (Propur) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Célia Ferraz de Souza.

O problema é que as pessoas conheciam a rua por seções, tendo alcunhas diferentes de um trecho para outro. Além de ser conhecida como Os 7 Pecados, em outro ponto ficou denominada de Beco ou Rua do Jogo da Bola. O motivo era que em um sobrado onde funcionava uma taverna havia um extenso pátio onde os operários e os fregueses jogavam bola. O morador do imóvel, Antônio Pereira da Silva, era conhecido pela vizinhança como “Antônio do jogo da bola”, expressão de onde surgiu um dos nomes da rua.

— Quando cheguei para morar na Bento Martins, decidi pesquisar para saber quem foi esse general. Não era uma figura muito importante da história do Rio Grande do Sul. Era um personagem mais secundário — opina o professor de filosofia Jean Laison Simão, 41, que não sabia que no passado havia “casas do pecado” ao longo da rua.

Em termos de troca-troca de nomes, as coisas não terminam ainda. Em outro trecho da atual Bento Martins, morava um homem alto, magro e de certa idade. Andava de capote e era conhecido como “Nabos a Doze”. Possivelmente por vender nabo ou talvez por comercializar o produto a “doze por um vintém.” Dessa maneira, o povo se referia a esse quarteirão como a Rua do Nabos a Doze, ou Rua do Nabos. Por fim, o nome de General Bento Martins foi adotado em 1870. Trata-se de uma homenagem a Bento Martins de Menezes, o Barão de Ijuí, que chegou ao posto de brigadeiro honorário.


A Rua Os 7 Pecados não é a única referência do passado porto-alegrense quando o assunto é sexo. O Alto da Bronze era o palco para atuação de uma mulher conhecida apenas pelo primeiro nome, Felizarda. Figurões da alta sociedade e endinheirados, além de vadios de todos os cantos, buscavam conforto entre as quatro paredes da casa da prostituta. E foi ela quem deu nome ao Alto da Bronze, atualmente chamado de Praça General Osório.

Pouco se sabe sobre Felizarda, mas há registros do cronista Antônio Álvares Pereira Coruja, que provavelmente foi contemporâneo dela, em alguns textos de Antigualhas: reminiscências de Porto Alegre. Entre os relatos dele, há o seguinte: "Alguém me disse que se chamava Felizarda, mas que só era conhecida por não sei quê de Bronze, e que por decência só era chamada Bronze, nome que foi dado àquele lugar por ser ela a figura mais notável do bairro".


Em A Noite dos Cabarés, o escritor e jornalista Juremir Machado da Silva também aborda a história dessa enigmática personagem. "O próprio nome, Bronze, é uma contestação, profana, obviamente profana, da história oficial. O ascetismo, a hipocrisia são deixados de lado. Uma senhora, Dona Felizarda, vinda de São Borja, depois de 1850, venceu o catolicismo e o positivismo dos militares. Impôs o seu nome ao lugar. Mulher bonita, sensual, 'de feições indiáticas', devassa, sexualmente insaciável, cartomante, benzedeira e protetora das prostitutas, ela apaixonou a marginália da época. O resto criou-se aos poucos. A Felizarda tornou-se a iniciadora dos garotos, a desvirginadora dos incautos, dos espertos e dos assustados. Dava-se. Era generosa."

O historiador Charles Monteiro, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e autor do livro Breve História de Porto Alegre, reflete sobre a denominação do lugar:

— A questão do Alto da Bronze diz respeito a uma mulher que teve uma ascendência importante, inclusive em meio à elite política. Durante muito tempo, as autoridades mudaram o nome do logradouro, estabeleceram, com a República, outra denominação, mas a ideia do Alto da Bronze se manteve na memória coletiva. Esse é um caso de significado social que se sobrepõe à memória pública.

O certo é que essa morena encantou os homens e virou um dos símbolos da região. Pois o nome Alto da Bronze, que aparece em referências da Câmara Municipal até 1866, segue citado em detrimento da Praça General Osório. Antes ainda houve outras denominações, como Alto do Manoel Caetano, Alto do Senhor dos Passos e Alto da Conceição.
Fonte: GauchaZH

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