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O que são as paleotocas, misteriosas cavernas pré-históricas que são encontradas no RS

Heinrich Frank dentro da maior paleotoca do RS, em Boqueirão do Leão - Foto:Mateus Bruxel / Agencia RBS
Os gaúchos têm debaixo dos pés um raro patrimônio paleontológico, formado por uma quantidade incalculável de túneis cavados por animais pré-históricos. Essas tocas, que podem passar dos 100 metros de comprimento e ter aberturas de 4 metros de largura por 2 metros de altura, são encontradas em quase todo o território do Rio Grande do Sul. 

Também existem em quantidade em Santa Catarina. Em menor número, aparecem no Paraná, em Minas Gerais e na Argentina. Em outras partes da América e do mundo, por razões ainda desconhecidas, não são encontrados.

— Na paleontologia, você trabalha com os ossos dos dinossauros. Pode reconstruir o esqueleto e, a partir daí, supor que o animal fazia isto ou aquilo. Com as paleotocas é diferente. Você tem a casa do bicho. Você vê como ele vivia — explica o professor de geologia da UFRGS Heinrich Frank, um dos poucos pesquisadores das paleotocas.

Semanas atrás, Heinrich Frank guiou uma equipe de GaúchaZH em uma expedição pelo incrível universo das paleotocas gaúchas. Uma parte importante do trabalho dele consiste em percorrer o Estado examinando escavações e taludes recém cortados. Quando esses cortes ocorrem, é comum aparecerem nos barrancos tocas com milhares de anos – só na obra de duplicação da BR-116, o professor encontrou cerca de 200 tocas. 

Com o olhar treinado por uma década de pesquisas, o professor também identifica outras marcas do passado distante. Examinando os taludes de uma obra na BR-386, na expedição com GaúchaZH, o professor identificou na colina as marcas de um arroio pré-histórico.

As paleotocas estão por toda a parte, mas os gaúchos passam por elas sem saber que é algo especial. Na BR-386, durante obras perto de uma futura praça de pedágio, os automóveis circulam a poucos metros de uma toca de tatu-gigante pré-histórico. Heinrich Frank percebe o buraco de longe.

Como tem feito incontáveis vezes ao longo dos anos, o geólogo estaciona o carro no acostamento, apanha equipamentos no porta-malas e vai examinar o túnel recém-aparecido à margem da BR-386. Ele tira fotos e faz medições, antes que a toca seja coberta por leivas e desapareça. As informações vão para um banco de dados em que estão mapeadas mais de mil paleotocas.

Os pesquisadores acreditam que as tocas pré-históricas foram cavadas por tatus-gigantes e preguiças-gigantes, espécies extintas cerca de 10 mil anos atrás. As menores, que têm cerca de 50 centímetros de diâmetro e podem se estender por mais de uma centena de metros, são atribuídas por Heinrich Frank a tatus-gigantes. Esses animais podiam passar dos 250 quilos e eram mais ou menos do tamanho de um porco.

Há tocas maiores, de 1m50cm de diâmetro ou mais. Esses túneis são, segundo o professor, de diferentes espécies de preguiças-gigantes, animais que podiam ter o tamanho aproximado de um elefante.

Heinrich Frank conduziu a equipe de GaúchaZH até a maior paleotoca do Rio Grande do Sul, localizada no interior de Boqueirão do Leão, dentro da propriedade rural de Laudir Ogliari, 73 anos, e Bernardina Ogliari, 72 anos, casados há mais de meio século. Na infância, os dois costumavam brincar na chamada "grutas dos índios". Há cerca de uma década, quando o geólogo apareceu dizendo que a caverna tinha sido cavado por uma animal pré-histórico, Laudir achou que Frank era o "professor dos loucos".

Brincalhão, ele costuma fazer piada com os visitantes.

— Vêm uns e perguntam: "Onde fica a tal paleotoca?" A gente diz: "Vieram uns guris, colocaram fogo na palha e acabou a toca" — diz o idoso, soltando uma gargalhada.

A paleotoca de Boqueirão do Leão tem quase 40 metros de comprimento. Ela começa com um amplo salão, que depois se afunila e serpenteia para dentro, até perder-se na escuridão. Depois do salão, o túnel fica mais baixo e estreito, e só é possível prosseguir de joelhos. No final, surge um outro salão, amplo e arredondado, com 3 metros de largura e 1m50cm de altura, o dormitório dos animais. 

Heinrich Frank chama a atenção para as paredes de rocha lisa:

— O teto é completamente liso porque os bichos entravam e saíam durante décadas e séculos. Essa coisa lisa não tem processo geológico que crie dentro de uma antiga duna. Se aqui fosse basalto, poderia ser um túnel de lava. Mas não é basalto. E é horizontal, sinuoso. É coisa muito óbvia. Não tem como ser outra coisa. É uma toca.

As tocas foram cavadas pelos animais em rocha dura. No caso do túnel de Boqueirão do Leão, trata-se de arenito. Ainda que as preguiças-gigantes tivessem garras comparáveis a uma picareta, Frank não acredita que um único espécime construísse a toca sozinho. Para ele, as tocas foram escavadas ao longo de décadas ou séculos, ao longo de gerações, e abrigaram grupos de quatro a seis preguiças.

Na caverna de Boqueirão, o professor identificou em uma reentrância da parede marcas de garra dos bichos. Em outro ponto, achou um cone para dentro da parede, que atribui a uma cotovelada do animal.

Fonte:  RDFoco

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