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Tragédias, mitos, esquecimentos em uma estrada

Em fevereiro deste ano (2011) fui ao litoral norte do estado, tinha compromisso agendado na Cidade de Capão da Canoa. Desloquei-me para lá de ônibus, utilizando a linha que vai pela BR-290 e BR-101, depois na localidade de Morro Alto usa-se a estrada estadual para chegar na cidade.

Passando pelo Parque Eólico de Osório (ainda na BR-290), fechei o livro que estava lendo e comecei a observar a estrada. Foi impressionante a grandeza do Parque Eólico, é a futura energia "limpa" que todo desejam para nossa futura matriz de geração energética. Até ali meus pensamentos estava calmos e arejados pela visão que tinha da janela.
 

Quando ingressamos na BR-101 fui vendo as pistas duplicadas e apreciando a vista, apesar de já ter percorrido esta estrada por mais de 40 anos, parece que algumas cenas novas e antigas se misturam. Olhei com tristeza para um escola estadual demolida (em ruinas) e opa, um dos motivo do artigo : logo após a escola, um pequeno cemitério de estrada... pequeno talvez tivesse lugar para no máximo 50 tumulos ou um pouco mais... pelas minhas contas, não demoraria muito eu veria um outro pequeno cemitério a minha esquerda.

Eu estava certo!! Lá estava ele, talvez menor que o outro.


Nesta hora, meu pensamento voou de novo, pequenos cemitérios em estradas, geralmente contém sepulturas de pessoas quando a localidade era pequena e o movimento infimo.


Agora a grande rodovia, com movimento de milhares de veiculos transitando em ambos os lados, tiraria o sossego e privacidades na comunidade e no "campo santo".


Ali ficaram histórias, vidas, talvez tragédias, alguns mitos e o esquecimento solene.


Aqui chega o segundo ponto do meu artigo : o esquecimento.


No bairro onde resido, tem clinicas geriátricas (nome bonitinho para asilo de idosos ou depósito de velhos).


A "sociedade atual" acredita que em "alguns casos" quando o idoso não é mais produtivo, requer cuidados especiais ou muita atenção, seus familiares "recomendam" colocar-lo em uma clinica ou asilo.


Tal justificativa se dá pelo fato de que, com o ritmo de vida atual, muitos idosos são um "estorvo" para a familia e este é o caminho natural. Seja em um clinica geriatrica de luxo ou asilo paupérrimos, o brilho dos olhos dos idosos aos pouco vai diminuindo até apagar-se por completo.


Existem exceções? Claro! Temos vários exemplos por ai... mas a realidade é cruel e manda um recado : Se tu não é útil, vá para onde podemos ter isolar e não nos atrapalhar.


Convivemos com esta situação há muito tempo, o desrespeito com idoso sempre foi um marca da civilização ocidental, muito ao contrário dos orientais.

Aos idosos resta o que? Ver os dias passarem, aguardar um visita (que as vezes nunca vem) dos familiares, tentar inserir-se na comunidade dos "habitantes" do local ou então verem chegar o inevitável : a morte.


Estes familiares "ocupados" com o seu dia-a-dia e que às vezes não encontram tempo para uma "visita" na clinica, poderão chorar no túmulo e sentir-se aliviados para não mais visualizar o seu descaso. Alguns não visitam, sabem que foram enterrados em alguma sepultura comunitária e não irão visitar nem no dia dos Finados.


Talvez sejam esquecidos com os sepultados nos cemitérios de beira de estrada, engolidos pela civilização predatória e competitiva. Ou talvez um boa alma deposite um boquet de flores em homenagem às histórias passadas e já possivelmente esquecida.


Agradeço ao escritor russo
Fiodor Dostoesvski pela inspiração para escrever este artigo, baseando-me no seguinte trecho de As memórias do sub-solo: " este é o retrato impiedoso da constituição de nossa sociedade moderna, fundamentada na razão iluminista, e de suas contradições"

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3 Comentários

  1. Eu tambem gosto de observar a estrada que já tenha passado muitas e muitas vezes.... é meio estranho e ao mesmo tempo encantador ver as mudanças.

    Quanto a futura energia, hoje mesmo estava ouvindo uma reportagem a respeito, pena que perdi parte, isso é importante.

    Sobre idosos, a minha mãe mora na Alemanha, e este ano ela decidiu morar num apartamento especial. Tipo um predio para idosos com estrutura, mas sem serem proibidos de sair. Ela melhorou 100% a depressão que estava consumindo suas energias. Sinto pena disso, mas não tenho como ajudar, estou no Brasil.

    Beijos

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  2. Obrigado meu amigo pela indicação de post que faz que todos possam refletir a respeito deste tema que muito chama atenção todos ou seja através de notícias ou até mesmos quando passamos pelo local e não tem como não nos chamar atenção, não é mesmo?
    Portanto além de outros assunto descritos em seu post faço o destaque de parte introdutória sua na postagem bem assim: "Passando pelo Parque Eólico de Osório (ainda na BR-290), fechei o livro que estava lendo e comecei a observar a estrada. Foi impressionante a grandeza do Parque Eólico, é a futura energia "limpa" que todo desejam para nossa futura matriz de geração energética. Até ali meus pensamentos estava calmos e arejados pela visão que tinha da janela."

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  3. Olá Charles,

    Agradeço pelo comentário, e ainda me impressiono com a grandeza desta obra (e das outras que virão), temos que investir em energias limpas, que não agridam mais o meio ambiente..

    Abraço

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