Afinal, quem é o gaúcho?

Geraldo Voltz Laps
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RS e Outras Histórias

Conforme a professora Edinéia Pereira da Silva, doutora em História e pesquisadora da indumentária gaúcha, a primeira vez que alguém falou sobre o gaúcho, como a gente conhece, foi o viajante português José de Saldanha, num diário de viagem lá em 1787.

Ele escreveu: “Gauches, palavra espanhola usada neste país para chamar os vagabundos ou ladrões do campo, tipo vaqueiros, acostumados a matar touros selvagens e tirar o couro deles.”

Então, a historiadora destaca que essa visão que Saldanha descreveu do gaúcho não é a mesma que temos hoje. Naquela época, o gaúcho era visto de outra maneira, mas, ao longo do tempo, a gente recriou essa imagem. Hoje, ele é um símbolo do povo do Rio Grande do Sul.

Nos registros de 1787, que são a primeira prova da palavra “Gauches”, o gaúcho não era exatamente o herói que a gente vê hoje. Ele já foi retratado como um sujeito meio marginal. Mas, com o tempo, especialmente em dois momentos da história, essa imagem foi mudando. O primeiro momento foi lá no século XIX, quando a literatura começou a criar uma figura mais romântica do gaúcho, algo que ajudava a formar uma identidade numa terra nova, que estava sendo disputada por diferentes fronteiras. O segundo momento foi mais recente, na segunda metade do século XX, quando surgiu um movimento cultural organizado que ajudou a firmar essa figura do gaúcho, mais parecida com a que conhecemos hoje. Esse movimento cresceu tanto que o gaúcho se tornou conhecido até fora do Brasil, numa época em que a mídia eletrônica ainda era pouca explorada.

A professora Edinéia explica que esse "processo de simbolismo da figura do gaúcho" deu uma ênfase especial à sua vestimenta, que o identifica e o diferencia.

No começo, foi a literatura que ajudou a criar essa imagem, deixando claro que eram histórias, mas com base em fatos históricos. Já o movimento cultural gaúcho, que começou por volta de 1947, criou práticas e imagens que foram organizadas para representar o gaúcho. Esse movimento trouxe elementos da história, mas transformou isso em uma “verdade” sobre o gaúcho, algo que até hoje é defendido pelos que seguem essas tradições. Entre as diversas maneiras de representar o gaúcho, a indumentária (a roupa) se destaca. Ela foi registrada nos relatos e nas pinturas dos viajantes dos séculos XVIII e XIX, voltou com força na literatura dos séculos XIX e XX, e se tornou fundamental para construir e espalhar a ideia do gaúcho ideal, especialmente a partir da segunda metade do século XX, quando o movimento gaúcho se institucionalizou.

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