O primeiro teatro construído em Porto Alegre, o São Pedro, recebeu centenas de pessoas em 19 de setembro de 1869. Com sua fachada imponente no estilo neoclássico, o prédio ficou com o salão e os camarotes lotados naquela noite. O público saiu de casa para assistir a um espetáculo com desfecho impensável para a elite econômica da época.
Quando a cortina foi levantada, a plateia viu a personagem Liberdade visitando o Brasil. Na peça, ela encontra um escravo, "coberto de andrajos e cicatrizes recentes, entregue à lida diurna". A Liberdade, então, "invoca o auxílio do céu". Um anjo mensageiro responde o chamado e devolve o escravo à Liberdade. Além disso, ele também ordena a libertação das crianças escravizadas.
No palco, então, surgem 21 crianças. Nenhuma delas é aspirante a ator mirim. Todas são negras e filhas de escravas. Elas recebem cartas legítimas de alforria.
"A este espetáculo as lágrimas correram e o entusiasmo dos corações sensíveis tocou até o delírio", escreveu depois o médico José Antonio do Valle Caldre Fião, presidente da Sociedade Partenon Literário, grupo criado há 150 anos, que organizou o espetáculo abolicionista e que fazia "vaquinhas" para comprar a liberdade de escravos.
Quanto ao grupo gaúcho Partenon Literário, sua bandeira ia além das letras.
"O Partenon não foi uma sociedade meramente literária, mas de ordem cultural e com viés político. A maioria dos partenonistas tinha dois ideais. Eles defendiam sobretudo a República, sendo contrários à Monarquia vigente, e eram abolicionistas", explicou Maria Eunice Moreira, professora da Faculdade de Letras da PUCRS à BBC News Brasil.
Juntamente com os pesquisadores Alice Campos Moreira e Mauro Nicola Póvoas, a professora escreveu um estudo que servirá de apresentação a todo o acervo digitalizado da "Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário". A revista, publicada entre 1869 e 1879, poderá ser acessada pela internet a partir de outubro (o site ainda não divulgado). No periódico também eram publicados textos contra a escravidão, como o registro de Caldre Fião sobre o teatro apresentado no São Pedro.
Fonte: BBC Brasil
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