Tragédias no trânsito - uma opinião coerente

Geraldo Voltz Laps
Por -
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Diza Gonzaga*

Há dois anos entrou em vigor a Lei Seca, que nós, da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, chamamos de lei da vida. Sim, lei da vida, pois, nos primeiros 30 dias de sua implantação, os números de internações nos prontos-socorros e prontos-atendimentos do país caíram em mais de 40%. 

Estamos falando de vidas! Quarenta por cento de Thiagos, Fernandas, Rodrigos, Pedros... Nos seus primeiros dias, ouvimos manifestações, muitas vezes descabidas, como a dúvida se um bombom de licor poderia reprovar no bafômetro ou se "eu não vou poder tomar meu copo de vinho". Aliás, todos só bebiam um copo de vinho, um copo de cerveja... 

Mas o que se viu é que a mistura de bebida e direção, a dupla de morte, estava perdendo terreno para a vida, ou melhor, as vidas que foram poupadas. As manchetes anunciavam blitzes, fiscalização, Polícia Rodoviária Estadual e Federal, azuizinhos, todos fiscalizando.

Passados dois anos - o descrédito -, os números voltando a patamares insuportáveis. A guerra do trânsito matando e mutilando centenas de milhares de pessoas e enlutando famílias de todo o país. Mas, afinal, a quem interessa que esta lei não "pegue"? 

É preciso que todos tenham a certeza que o álcool está presente em mais de 40% dos acidentes com mortes ou lesões graves. Portanto, não é exagero dizer que bebida e direção são uma dupla de morte.

Infelizmente, este 20 de junho não é um dia de comemoração. Ainda temos uma longa caminhada, onde a consciência deverá ser uma importante aliada para sairmos deste ranking da morte, em que o Brasil está entre os campeões no mundo, junto com a Rússia, a China, os Estados Unidos e a Índia.

Mas não podemos esquecer da responsabilidade dos donos do sistema: o governo. É preciso que as autoridades façam a sua parte: Polícia na rua, bafômetros, fiscalização eficiente e punição exemplar. Estudo recente aponta que a "sensação" de impunidade é também responsável pelo descaso com a lei. Apenas 9% das pessoas entrevistadas pelo estudo disseram ter sido paradas ou abordadas alguma vez para fazer o teste do bafômetro.

E para nós, a sociedade, cabe o resgate do nosso papel como cidadãos: zelar pela nossa vida e a vida das outras pessoas. É preciso uma verdadeira cruzada a favor da vida: pais, professores, donas de casa, empresários, médicos, jornalistas, enfim, a sociedade têm que ser "fiscal da vida". Senão, vamos continuar recebendo nossos filhos em "caixões fechados".
Afinal, queremos o Brasil campeão no futebol e não em acidentes. Vamos aproveitar o "clima" da Copa do Mundo e dar um cartão vermelho para a violência no trânsito! 

*Diza Gonzaga é fundadora e presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga (www.vidaurgente.org.br).
Título original: Dois anos da lei da vida
Fonte: Correio do Povo - Porto Alegre, RS - 19 06 2010

Site: www.correiodopovo.com.br

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2Comentários

  1. Geraldo, o que entendi, recentemente, que no Rio de Janeiro ajudou muito, melhorou muito, reduziu acidentes por causa de bebidas. Ao menos, já tem uns 2 anos que não sou mais acordada durante a madrugada com acidentes cinematograficos - porque tem uma avenida importante aqui perto. Só que tudo neste país, o tempo vai passando e esquecem da importancia, assim acredito realmente que possam ter cidades voltando a enterrar pessoas (normalmente vítimas de) que não tiveram juízos.

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  2. Olá Geraldo!
    Sou totalmente solidária a essa campanha! Penso em quantas vidas foram perdidas pelo abuso do álcool, numa comemoração ou divertimento que acabaram em tragédia. Penso nas famílias que ficaram tristes e tentando achar em si uma culpa, seja na educação, na falta de carinho ou diálogo; quando apenas uma dose e o calor da empolgação geraram tragédias.
    Grande abraço,
    Jackie

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